Opinião
Rua Rangel Torta de Baixo Pestana
Por Zé do Joca*
Essa rua começa junto ao antigo armazém E.F.S., hoje sede da Guarda Municipal, e vai até o moinho de Egídio Justolim, este de há muito desativado. Historicamente, Rua de Baixo, porque realmente ficava na parte mais baixa da cidade, logo após a Estação da E.F.S. e, para se diferenciar de outra rua também importante da cidade, a Rua Prudente de Morais, conhecida por
Rua de Cima. Fisicamente, Rua Torta, porque como o próprio nome indica, é realmente “torta” e, para destacá-la mais ainda, é a única rua da cidade que não segue os padrões normais de alinhamento. O seu desalinho todo se deve, provavelmente, a um leito carroçável nada reto, que lhe rendeu o nome de Torta. A sua vizinhança próxima demais aos trilhos da E.F.S. e ao Rio Tijuco Preto, talvez não tenha permitido alterações em seu traçado; espremida entre a E.F.S.e o Tijuco Preto seguiu, na época, o melhor traçado que poderia desejar. Além do traçado sinuoso a Rua Rangel Pestana apresenta um espaçamento pequeno entre as duas calçadas, sendo seu leito carroçável, muito estreito, dificultando o trânsito de veículos.
Duas medidas importantes foram tomadas para diminuir estas dificuldades: a rua de mão única e estreitamento em alguns pontos das calçadas, criando bolsões em favor do alargamento da rua propriamente dita, facilitando possíveis estacionamentos (1956/57 – na gestão do Prefeito Gramani).
É uma rua que não possui quarteirões e a única travessa existente, Travessa Paschoal Limongi, atende apenas a um dos lados da rua, podendo ser considerada como “meia travessa”. As construções não respeitam nenhum afastamento ou recuo, possuindo até hoje o aspecto das ruas mais antigas do início do século passado. Outra característica dessa rua é a falta de entradas para automóveis; alguns portões que aí encontramos serviam de entrada às antigas carroças, troles, charretes ou animais. No aspecto social pode-se dizer que até o início da segunda metade do século passado (1960 mais ou menos), a Rua Torta ainda apresentava condições favoráveis para o desenvolvimento de um contato bem próximo e familiar, pois a maioria dos residentes era de proprietários que ali habitavam a um tempo razoável. Eram amigos, parentes, velhos conhecidos e a proximidade era a tônica. Pelas mudanças de muitas famílias para outras ruas ou cidades, pela chegada de famílias novas vindas de distantes e diferentes lugares, naturalmente esse aspecto mudou um pouco. A rotatividade de seus moradores também contribui para essas mudanças.
No aspecto comercial, antes da mudança social, essa rua possuía vida própria atraindo compradores e fregueses que movimentavam seus armazéns, padarias, fábricas de macarrão e bebidas, açougue, barbearias, lojas, etc. As Coletorias Estadual e Federal, numa mesma época, fizeram parte do conjunto fisco-financeiro-comercial da Rua de Baixo, acompanhadas da Caixa Econômica Estadual e da Agência do Correio.
Várias curiosidades dão maior destaque a essa via pública e, entre elas, a biquinha que além de fornecer água para o uso pessoal servia também às pessoas que vinham da zona rural aí lavarem os pés para depois calçarem os sapatos. Hoje essa biquinha somente existe nas reminiscências da cidade. O muro que separa os quintais do terreno pertencente à ferrovia, foi construído na década de 40 (1943/44 mais ou menos) com um alicerce de pedra com mais de um metro de altura, vindo a seguir a construção de tijolos numa altura normal. Esse muro ainda pode ser observado nos dias de hoje. Outra característica marcante é que muitas casas do lado par tinham nascentes de água e quase sua totalidade possuía porões. Nada disso acontecia no lado ímpar. Uma curiosidade única da nossa cidade e que faz parte dessa rua é que a antiga Fábrica de Bebidas Limongi, em toda sua extensão, tem o Rio Tijuco Preto como companheiro bem próximo, no seu subsolo. Outra situação interessante e única da Rua Torta é que ela somente se encontra com outras ruas nas suas extremidades: Avenida José Augusto da Fonseca e Rua Horácio Limongi no final, Ladeira José Leite Negreiros no início.
Foi ainda nessa rua que aconteceu um assassinato que se tornou famoso na cidade por várias décadas: o Aiça atirou no Mansur, provavelmente em 1937, devido a rivalidades comerciais.
Encerrando, alguns moradores e estabelecimentos antigos e tradicionais da Rua Rangel Pestana, Rua Torta ou Rua de Baixo, de conformidade com minha frágil memória. A partir de seu final: oficina de Guilherme Perozza; moinho de Egídio Justolim; fábricas de bebidas e macarrão de Horácio Limongi; fábrica de bebidas Marino; Antônio Rovina, cesteiro; armazém da família Justolim; Antônio Andrade (Tói), famoso juiz de futebol; Luizinho Vallerini, barbearia, permanente e tingimento de cabelos; Nicolau Marino, armazém (em depósito de sua propriedade realizavam- se grandiosas festas juninas com fogueiras e quadrilhas); Mário Cavicchiolli, músico; Horácio Limongi, padaria; Silvio Froner, alfaiate; Paschoal Limongi, fazendeiro; família Franceschini, cestinhas de guloseimas nas épocas de crisma, além da confecção de coroas de flores na época de finados; Palma, tintureiro; família Chibim; Antônio Vasques, verduras sem agrotóxicos e loja; Aquilino Galante, loja; Luiz Cruzato, funcionário da E.F.S.; família Rosamiglia, fabricantes de móveis; dona Maria Franco, funcionária do Grupo Escolar “Barão de Serra Negra”; Manoel Domingos Rossa, comerciante; Vitório Begiato, alfaiate; Mansur, loja de armarinhos; Paschoal Consolmagno, loja de artigos em geral e selaria; Guilherme Perozza, ferramenteiro e marceneiro; Pedro Piacentini, cesteiro; Antônio Schiavon, pedreiro; Manoel Maria de Andrade, comerciante; Idalina de Andrade Leone, professora; Ferrucio Galante, comerciante; Nagib Chamma, comerciante; Evaristo Franceschini, agente do Correio e grande ator humorista; Anísio Floriano, funcionário da E.F.S.; Fábio Louzada, diretor do Grupo Escolar “Barão de Serra Negra”; Etore Tegon, açougue; Orlando Rubinato, comerciante; Zico Pompeu, seleiro e maestro da Banda; Rubens de Abreu, coletor federal; Urbano de Oliveira, farmacêutico; família Lucchi; Antônio Laino, ferroviário e família Pôncio, comerciante. O prédio de número 43 foi, em épocas diferentes, residência, Coletoria Federal, fábrica de extração de óleo de laranja, Câmara Municipal e casa de comércio.
*ZÉ DO JOCA é professor de História aposentado NOTA DO AUTOR: Francisco Rangel Pestana, jornalista e político: Iguaçu (RJ) 1839 – São Paulo (SP) 1903
Opinião
QUADROS DO ZÉ DO JOCA: 8 – Máquina de algodão
Localizava-se na esquina da rua 9 de Julho com a Travessa Prates. Pertencente à família Marino, aí se beneficiava o algodão que, depois de enfardado, era enviado à industrialização. Na década de 1940 o Sr. Ferruchio Galante montou aí, numa das repartições da fábrica, um ringue de patinação com patins de rodas.
Nos últimos anos a família Rosamiglia ocupou o espaço, montando uma respeitável fábrica de móveis. Um grande incêndio provocou o fim de qualquer atividade em suas dependências. Demolido o prédio, constuí-se no local um edifício de 15 andares.
Opinião
QUADROS DO ZÉ DO JOCA: 7 – Cadeia Pública
Localizada na esquina das ruas Moraes Barros e Dr. Mário Tavares. Tem atualmente a sua frente o moderno e vistoso prédio da Câmara de
Vereadores, que leva o nome do ex-vereador Victorio Perim. A curiosidade maior sobre o prédio da cadeia é que, por muitos anos, desde sua inauguração, foi o único prédio da cidade, com grades nas janelas. Observando o prédio da cadeia nos vem à lembrança a figura generosa e simpática do são-paulino Mário Soldado; ele levava os elementos alcoolizados para suas residências, ao invés de coloca-los na edificação, mas ainda carrega consigo a aparência da “autoridade” de sempre.
Opinião
QUADROS DO ZÉ DO JOCA: 6 – Casa em frente à estação
Construção à frente da estação da E.F.S. e demolida no início dos anos 90 nesse local, numa construção anterior, funcionou o armazém de Valério Fernandes Martins, um dos fundadores da cidade. Veio até nossa região na 2ª metade do século XIX, trabalhando na construção da ferrovia Companhia Itauana; esta mais tarde encampada pela E.F.S. a quem interessou, o Sr. Valério F. Martins era avô paterno de Zé do Joca.
O endereço dessa antiga construção é a Praça da Bandeira, localizada entre o ex Largo da Estação e o início da nossa principal via pública, a Rua Prudente de Morais.
Nota da redação: ficava no terreno em que foi erguido o prédio em que atualmente funciona a Lojas Cem
-
Reportagens5 anos atrás
Vivo pela “graça de Deus”
-
Reportagens7 anos atrás
Bairro é mais antigo que Piracicaba
-
NOTÍCIAS6 anos atrás
Casa de Acolhimento Institucional Patrícia Guidolim Guadagnim é inaugurada
-
Reportagens7 anos atrás
Depoimentos de ex-alunos ilustres da Escola Barão de Serra Negra
-
Notícias6 anos atrás
Biografia de Patrícia Guidolim Guadagnim
-
Reportagens7 anos atrás
Médico neuropsiquiatra, Montagnani ressalta qualidade do ensino e guarda lembranças das brincadeiras e da cantina
-
NOTÍCIAS6 anos atrás
A trajetória de José Francisco Manrique, o Gordo da Roché
-
Reportagens7 anos atrás
Bisneto do Barão revela conservar traços do antepassado na genética ao investir na agricultura e promover acesso à educação