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Especial sobre Dito Boi – parte II: Protetor dos pequenos

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Os filhos João Bernardino, Lázaro Leandro e Antônia Aparecida: recordações ainda vivas na memória

No dia 13 de agosto de 1927, a diretoria de protocolo e arquivo da Secretaria de Estado de Educação e Saúde Pública emitiu o documento de nomeação de Benedito de Moraes para atuar como servente no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. A portaria, de número 916, ainda hoje é preservada pela família de Dito Boi, que assumiu o posto cinco dias depois para sair dali após 31 anos de dedicação. “Sua responsabilidade ia além da escola”, atesta o filho Lázaro Leandro. As funções incluíam, por exemplo, ir até a casa do aluno para saber o motivo de sua ausência. E para isso, era necessário alugar charretes, pois nem todos os bairros eram próximos do endereço do grupo escolar. Tarefa hoje que é designada apenas a conselheiros tutelares, mediante casos notificados pelas instituições de ensino. “Ele conversava com os pais para saber o que estava acontecendo com a criança, era preocupado”, completa a filha Antônia Aparecida de Moraes.

No documento emitido pela Secretaria de Estado da Educação, o nome de Dito Boi é grafado como Benedicto

Às crianças, Dito Boi aconselhava respeito aos pais. Eram rotineiras as idas até o Tanque da Companhia, espaço que sempre era recorrido pelos alunos para “matar as aulas”, e outros locais perigosos. Tão logo Dito Boi localizava o estudante, havia depois dois destinos certos: a própria escola ou a casa dos pais. Os sete filhos de Dito Boi eram companheiros diários do pai e lhe ajudavam em alguns afazeres, como a limpeza da escola. “A gente levava troca de roupa e ficava no grupo escolar depois da aula. Na esquina tinha o Bar do Peru, onde meu pai mandava fazer lanche de pão com mortadela e refresco”, recorda-se Aparecida, sobre o esforço coletivo para realizar a limpeza do espaço.

Um trabalho extra também foi dado à filha Aparecida, que chegava uma hora mais cedo ao grupo escolar para copiar a matéria da professora Lídia Limongi no quadro negro. Como era baixinha, contava com a ajuda de uma escada de três degraus. Vem daí sua disciplina pela escrita, nitidamente visível na preciosa agenda que guarda a sete chaves, com detalhes dos parentes e amigos.

“Ele andava com balas nos bolsos para distribuir às crianças na rua. Ficava sentado em frente à nossa casa para observar o movimento, conversar com os vizinhos e amigos”

No tempo em que a escola possuía salas divididas entre meninos e meninas, além de monitorar a entrada e saída dos alunos na escola, Dito Boi colocava tinta nas carteiras, providenciava os ingredientes para a merenda, percorria sítios em busca de frutas e ajudava no preparo do pão para o recreio das crianças. Tinha ainda amor especial pela plantação de hortências do Barão. Ex-aluno do Barão, Dito Boi frequentou a escola até a quarta

Agenda da filha Aparecida: detalhes da profissão e datas importantes do pai foram anotadas

série, como era costume naqueles tempos, e fazia questão que todos os seus filhos se dedicassem aos estudos. Dizia querer todos até a faculdade e que se dependesse dele as condições seriam dadas. Para tanto, era necessária rigidez em certos momentos. “Certa vez estava brincando durante o recreio na escola. Aí, enquanto estava correndo com uma turminha, senti a orelha levantando. Ele me fez sentar e ficar quieto”, conta Lázaro Leandro de Moraes, um dos sete filhos de Dito Boi. Sobre a fama de bravo do pai, João Bernardino faz questão de rebater e ao mesmo tempo classificar Dito Boi como dócil e descontraído. “Ele andava com balas nos bolsos para distribuir às crianças na rua. Ficava sentado em frente à nossa casa para observar o movimento, conversar com os vizinhos e amigos”, detalha o caçula.

 

 

 

NOTA DA REDAÇÃO: Matéria originalmente publicada na edição número 2 da Revista Nossa (setembro de 2011), integra reportagem especial sobre os 100 anos da Escola Estadual Barão de Serra Negra.

TEXTO – RODRIGO ALVES

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Um fenômeno chamado Leão da Prudente

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Time tricampeão amador perfilado. EM PÉ: Amaral, Serginho Evangelista, Lu Marcello, Mané Carvalho, Bassane, Esquerdinha, Dirlei Marcello, Pedro Arthuzo, Zé do Banhara e Zicoca (massagista); AGACHADOS: Ernesto Hansen, João Pitoco, Wilson Angelelli, Ronaldinho, Du Marino, Bira, Tiganá, Gusto Begiato e Júnior Marino. Técnico: Osmar Ganassim

Reportagem originalmente veiculada na primeira edição da revista Nossa Rio das Pedras, em 2009, republicada em homenagem a Osmar Ganassim, falecido hoje (08/12/2020).

“Era uma paixão, uma coisa incrível. Não sei o que tinha aquela camisa, mas quem a vestia ficava apaixonado. A gente comia, bebia e sonhava com o Leão.”. A declaração de Osmar Ganassim sai de

Osmar Ganassim (*13/02/1952 +08/12/2020)

forma espontânea ao comentar sobre o time que ajudou a dirigir no final da década de 70 e início dos

anos 80: o Leão da Prudente. Um fenômeno que passou como um rolo compressor por cima dos adversários durante seus pouco mais de seis anos de existência.

“Nunca fomos vice-campeões. Em todas as competições que entramos, saímos campões”, enfatiza Ganassim. Entre os feitos de destaque do Leão, estão a conquista do tricampeonato amador de Rio das Pedras (79,80 e 81) e o título da Copa Intercontinental em Piracicaba, ambos noticiados pelo Jornal de Piracicaba.

O trecho final da matéria do JP que aborda o tricampeonato amador traz os seguintes dizeres: “Para comemorar o tri, acontecerá domingo um suculento churrasco na fazenda do Sr. Pedro Furlan. Os interessados em participar favor falar com o Pio Ganassim”. Pio e Pedrão Furlan foram dois dos contagiados pela paixão que era torcer e fazer parte do Leão da Prudente.

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Osmar Ganassim relata uma série de episódios de demonstração de amor ao time. “Nosso primeiro uniforme quem doou foi Anésio Scarassatti. Quando a TV em cores foi lançada, praticamente ninguém tinha em Rio das Pedras e o Dirceu Cortelazzi doou uma para o Leão rifar. Tinha um tapete no Bar do Capucim que o Pino Guidolim rifou umas dez vezes. Aqueles que ganhavam devolviam para que fosse rifado novamente”, conta.

O Bar do Capucim, citado por Osmar, foi o berço do Leão, que ganhou vida com o nome de Leão da Madrugada, por meio de um grupo de boêmios, a maior parte sem grande afinidade com a bola. São citados como fundadores: Totonho Pompermayer, Ernesto Hansen, os irmãos Edson e Sérgio Angeleli, Mané Carvalho, Mombuca, Bassani, Osmar Ganassim, Tone Donanzan, Franquinho, Mundinho, Chico Vendrame e outros. Todos freqüentadores do Bar do Capucim que, na época, ficava onde hoje funciona a Kinta Skina lanches, na rua Prudente de Morais.

Envelope para correspondências personalizado do Leão da Prudente

Depois que Luiz Capucim mudou o bar para a localização que ocupa até hoje, o nome passou a ser “Bar da Prudente”. Ali o Leão assumiria de vez a condição de bicho-papão do futebol rio-pedrense. Viriam para o time grandes nomes do futebol rio-pedrense da época, como mostra a foto acima. Outros jogadores de fora também ajudaram a consagrar o Leão. Sendo os principais Berto Torina, Piau, Wilson e Gê Angelelli, vindos de Saltinho; Ronaldinho, de Santa Bárbara; Lelo Marquinho Leme, Fernando e Carlinho Jacaré, de Piracicaba; Pilon, de Guararapes; e Bira, de Capivari.

“Quando trazíamos jogadores de fora é porque eram craques. E nenhum nunca cobrou um tostão para vestir a camisa do Leão”. A supremacia fez com que uma mobilização se formasse para derrotar o Leão. Por isso, um dos jogos mais especiais da história do time foi contra um o Velo Riopedrense, time formado por um político local, que investiu dinheiro com o objetivo exclusivo de bater o Leão. “Pegamos eles logo na estreia e enfiamos 6 a 1”.

 

Apaixonados ajudaram a tocar o time

A história do Leão da Prudente é repleta de aficcionados que se doaram para construir a história vencedora. Osmar Ganassim destaca, no entanto, a figura de Luiz Capucim. “Gostaria que ficasse registrada em nome de todos os leoninos uma homenagem especial a Luiz Capucim, que foi nosso diretor financeiro, presidente, pai e amigo. Que Deus o tenha em ótimo lugar e nos abençoe sempre”.

Luiz Capucim diretor, pai e amigo. Tudo para os leoninos. FOTO: ÁLBUM DE FAMÍLIA

Outros citados por ele são Nilo e Dirceu Cortelazzi, Sinésio Borsato, Pedro Vendrame, Antenor Soave, Walter Begiato, Pio Ganassim, Pedro Furlan, Chico Ganassim, Amauri Gomes, Nilo Sacaro, Pino Guidolim, Alemão Dadam, Natinho Faria, Nhoca, Zicoca, Wilson Maranhão, Chico Ariozo, Ubaldo e Ubaldino Toledo (fundadores da Nechar) e outros.

“Todos se doavam muito. O Pino, por exemplo, passou dois dias correndo atrás de jogadores para a Copa Intercontinental. Era uma loucura”, disse. “Faço questão de agradecer a Revista NOSSA, que, depois de 30 e poucos anos, presta essa justa homenagem a todos os leoninos”, finalizou Osmar.

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FAMÍLIA HANSEN: SINÔNIMO DE BOM FUTEBOL

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O patriarca Carlos Hansen entre os filhos André e Matheus: condutas como esportista e como cidadão renderam homenagem na Câmara Municipal

Carlos Hansen marcou época com a camisa 10 do Comercial de Ribeirão Preto nos áureos tempos do futebol paulista; Matheus, que fez longa carreira por clubes do Brasil e da Europa, forma com o irmão André dupla vencedora no futevôlei

Rodrigo Guadagnim
rodrigo@nossariodaspedras.com.br

Falar de Rio das Pedras e não falar de futebol é omitir parte importantíssima da história da cidade. É ignorar atividade que permeou a vida da maioria da população. E a família Hansen, entre tantos praticantes dessa modalidade tão apreciada pelos rio-pedrenses, foi a que mais se destacou.

Antonio Carlos Borsato Hansen, ou simplesmente Carlos Hansen, jogou profissionalmente por muito anos e o filho Matheus seguiu os passos do pai. Por onde passaram, no Brasil e no exterior, levaram o nome de Rio das Pedras pelo talento e o dignificaram com a conduta pessoal.

Papéis de embaixadores que os Hansen, aliás, continuam desempenhando. Atualmente, Matheus e o irmão mais novo, André, formam uma dupla profissional de futevôlei que tem se destacado e ganhado etapas do Campeonato Paulista. No ano passado, os irmãos Hansen foram vice-campeões paulista, disputando com as principais feras do esporte no Estado.

Pela razões mencionadas, os Hansen foram os escolhidos para representar todos os demais praticantes e amantes do futebol, nesta edição comemorativa de Nossa Rio das Pedras. A seguir, abordaremos a trajetória do patriarca.

 

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DUELOS HISTÓRICOS CONTRA SÓCRATES
E PRÉ-CONVOCAÇÃO À COPA DE 1978

Era comum na década de 1970 os times do fortíssimo Campeonato Paulista terem as escalações de seus meios-campos recitadas por torcedores e pela imprensa esportiva. Tempo de fartura. Época em que o camisa 10 clássico era o dono da bola. A Ponte Preta tinha Dicá, o Guarani tinha Zenon, o Botafogo-SP tinha Sócrates… Durante sete anos, naquela década, o rio-pedrense Carlos Hansen foi o dono da 10 de um elenco histórico do Comercial de Ribeirão Preto que disputou duas Séries A do Campeonato Brasileiro (1978 e 1979).

As boas atuações fizeram com que Hansen figurasse na relação dos 48 pré-convocados para a Seleção Brasileira para disputar a Copa do Mundo de 1978 na Argentina.

Período de memoráveis Comes-Fogos, na ocasião considerado um dos maiores clássicos do futebol brasileiro, disputado entre Comercial e Botafogo. Se o Comercial tinha Hansen como maestro, do outro lado a batuta ficava nas mãos de ninguém menos que o Doutor Sócrates.

“Joguei um monte de Come-Fogo contra o Sócrates”, contou Hansen. Um desses ficou marcado como um dos maiores triunfos da história do Comercial e garantiu vaga ao Leão no Campeonato Brasileiro de 1978.

Disputado em 16 de outubro de 1977, em um super lotado estádio Santa Cruz, casa do rival Botafogo, o jogo terminou empatado em 1 a 1. O Comercial jogava pelo empate.

Sócrates marcou para os donos da casa aos 20 minutos do primeiro tempo e Jader empatou para o Comercial aos 14 minutos da segunda etapa, calando a torcida local. Carlos Hansen jogou os 90 minutos daquela decisão.

Foi o terceiro jogo de uma “melhor de três partidas” criada pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) para definir qual dos dois times de Ribeirão Preto disputaria a Série A do Nacional. O Campeonato Paulista tinha tanto prestígio e os times de Ribeirão Preto eram tão respeitados que a CBD decidiu abrir uma vaga para que um deles jogasse o Brasileirão.

O feito é considerado heroico pelos comercialinos porque a equipe jogou uma partida em casa e duas fora (venceu a primeira por 1 a 0, no estádio Santa Cruz; empatou em 1 a 1 a segunda, no Palma Travassos; e empatou novamente em 1 a 1, no Santa Cruz).

Além de Sócrates, o Botafogo contou naquela melhor de três com o promissor ponta-direita Zé Mario, que três meses antes, em junho daquele 1977, tornou-se o primeiro jogador na história do futebol brasileiro a ser convocado para a Seleção Brasileira atuando por um clube do interior. Zé Mario morreu em 11 de fevereiro de 1978, aos 21 anos, em decorrência de uma leucemia.

Sócrates tinha 23 anos na oportunidade e Carlos Hansen 25. Não era simples tirá-los de suas equipes como é hoje. Tanto que Sócrates estava há cinco como profissional do Botafogo, clube pelo qual fez 259 jogos e marcou 101 gols.

CONTUSÃO IMPEDIU IDA AO CORINTHIANS

Depois daquela melhor de três histórica de 1977 contra o Botafogo-SP que deu a vaga para o Comercial no Campeonato Brasileiro do ano seguinte, os dois destaques de Ribeirão Preto, Sócrates e Carlos Hansen, receberam proposta do Corinthians. O técnico Osvaldo Brandão queria a dupla.

Sócrates foi. A história posterior todo mundo conhece. Virou um dos maiores ídolos da história do Corinthians e jogou duas Copas do Mundo (1982 e 1986). A contratação de Carlos Hansen foi barrada por conta de uma lesão no menisco.

Em uma época em que a medicina esportiva não era evoluída como hoje, as seguidas lesões posteriores tornam-se obstáculo para que a carreira de Hansen fosse ainda mais brilhante. Fica a interrogação se, a exemplo, de Sócrates, o meia rio-pedrense poderia ter brilhado na seleção canarinho.

“Quando o Osvaldo Brandão foi me buscar para me levar para o Corinthians, eu tive a lesão no menisco. Foi a primeira. Depois lesionei o ligamento. No final, tive que tirar até a rótula. Fiz quatro cirurgias no joelho direito e uma no esquerdo”, contou Hansen.

Jogando pelo Botafogo, Sócrates foi o artilheiro do Paulista de 1976.  Tanto ele como Carlos Hansen estiveram na mira da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1978. Hansen integrou a relação dos 48 pré-convocados pelo técnico Cláudio Coutinho.

SELEÇÃO BRASILEIRA SUB-23 E SELEÇÃO PAULISTA

Durante a carreira, Carlos Hansen foi convocado três vezes para a Seleção Brasileira de novos (atual sub-23) e seis vezes para a Seleção Paulista, na década de 70, atuando ao lado de estrelas como Rivelino e Sócrates.

Além da proposta do Corinthians, Hansen foi procurado por outros grandes clubes (São Paulo, Porto de Portugal e Kashima do Japão). O Comercial não aceitou negociá-lo.

Hansen entende a resistência dos dirigentes comercialinos como sinal de admiração e reconhecimento pelo profissionalismo e alto rendimento demonstrado por ele como atleta, dentro e fora de campo.

 

 

CARLOS HANSEN BATIZARÁ CENTRO ESPORTIVO

Em março deste ano, o nome de Carlos Hansen foi aprovado pela Câmara de Vereadores de Rio das Pedras para batizar o Centro Esportivo do Bairro Luiz Massud Coury. O nome foi Hansen foi sugerido pelo vereador Carlos Ivan Sicca (PV) e aprovado por unanimidade.

“Aceitei com muita honra. Fiquei muito contente. Agradeci ao Carlos Sicca pela homenagem e por se lembrar de mim como atleta profissional que representou Rio das Pedras”, disse Carlos Hansen.

O filho Matheus também agradeceu a lembrança. “Fico feliz que tenham valorizado tudo o que meu pai fez, levando o nome de Rio das Pedras como ele levou. Meu pai foi várias vezes homenageado em Ribeirão Preto, em Tietê, mas nunca havia recebido uma homenagem em Rio das Pedras”, disse.

Matheus é professor de educação física e torce para que o centro esportivo que levará o nome do pai seja bem aproveitado para colocar crianças e adolescentes no bom caminho da disciplina e da saúde.

 

FRASES:

INESQUECÍVEIS COME-FOGO

“Fiz gol contra Corinthians, Palmeiras, contra o Cruzeiro, no Mineirão, mas os grandes momentos da minha carreira foram os clássicos contra o Botafogo, o Come-Fogo. A gente se concentrava na quinta-feira. Íamos embora da cidade e só voltávamos no domingo. Sempre fui feliz nos Come-Fogo. Mais ganhei do que perdi. Inclusive até fiz gol da vitória em Come-Fogo. O clássico movimentava a cidade. O Estádio ficava lotado. As pessoas contavam os dias para chegar a rodada”, Carlos Hansen.

NO SANTOS DE PELÉ

Tive uma passagem rápida pela base do Santos. Chegamos a treinar, e a jogar amistosos contra aquele Santos de Pelé, Clodoaldo, Mengalvio, Gilmar no gol… Cheguei a treinar com eles. Era bonito de ver. Tinha mais gente para assistir a um treinamento para ver o Pelé do que em um jogo. A maioria era gringo. Poucos brasileiros. Fui com o João Pitoco [Morales]. Ele era muito apegado ao pai. E eu fui muito novinho. Ele falou que voltaria [para Rio das Pedras]. Eu vim embora junto”, Carlos Hansen

REVELAÇÃO

Disputei um campeonato Amador de Piracicaba pela Usina São Jorge. O Garcia Neto foi radiar o jogo e me viu. Passaram a informação para o XV. E o pessoal veio me buscar e eu acabei ficando no XV. Comecei a treinar, me tornei profissional com 17 anos”, conta Carlos Hansen, que estreou como profissional no Campeonato Paulista de 1969.

MATHEUS FALA SOBRE PASSAGEM NO BRASIL E NO EXTERIOR

“Passei por 20 clubes profissionais, joguei seis campeonatos regionais diferentes. Joguei o Gaúcho, o Goiano, o Paulista, o Carioca, o Mineiro. A diferença do Campeonato Paulista para os demais é muito grande”,

Disputei também os campeonatos Polonês e Ucraniano da primeira divisão. Pelo Metallurh-Zaporozhye, da Ucrânia, joguei a Liga Europa, que na época se chamava Copa da Uefa. Joguei contra o Leads United da Inglaterra. Perdemos por 1 a 0 na Inglaterra e empatamos em casa por 1 a 1. O Leeds tinha vários jogadores que disputaram a Copa do Mundo de 2002”,

 Na Polônia foi um campeonato bem bacana. Joguei num time que tinha vários brasileiros. Dos famosos tinha o Amaral, o Cleison, que jogou no Cruzeiro; tinha o Vágner, que jogou no Atlético Mineiro e no São Caetano; tinha o Neneca goleiro, o Fabinho Capixaba, ex-Palmeiras. Vários jogadores famosos e os brasileiros estavam todos no nosso elenco”, Matheus Hansen.

EXEMPLO DE CONDUTA

“Uma vez fui questionado sobre o porquê de apenas eu, da minha geração, me tornar jogador profissional. Uma das coisas que me ajudou foi sempre me cuidar muito. Sempre fui extremamente profissional nesse sentido. Enquanto outros estavam indo pra festa, gostavam de bagunça, de beber, eu já pensava em me cuidar”.

Costumo passar o seguinte para os mais jovens: direcione a vida para o objetivo que quer alcançar. O que é bom? O que preciso fazer? Treinar, me alimentar bem? Então tudo o que estiver fora disso é o que vai te tirar do caminho do seu sonho”, disse Matheus, que a exemplo do pai, nunca fumou nem ingeriu bebida alcóolica.

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PARTO NATURAL EM CASA

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“Quando ele [Rafael] nasceu, eu estava junto dentro da banheira, abraçado a ela [esposa]”. O relato do momento final do parto é descrito pelo marido Willy como “uma experiência linda, maravilhosa!” - FOTO: ACERVO DA FAMÍLIA

Em 26 de agosto de 2019, o casal Giuliana e Willy foi pioneiro em Rio das Pedras ao parir o filho Rafael por meio de um Parto Natural Humanizado Domiciliar.

Nos dias seguintes à mulher dar à luz um bebê, é comum ouvir das visitas a pergunta: “qual médico fez o parto?”. Trata-se de senso-comum entranhado na cultura contemporânea, dominada pelos partos cirúrgicos – mais conhecidos como cesárea ou cesariana – que revela distorção nos papéis. O Parto Natural Humanizado ganha força na sociedade para restabelecer uma ordem histórica e conferir aos atores o devido destaque na ação.

No parto humanizado, a protagonista é a mulher! Quem faz o parto é a mulher, quem tem o filho é a mulher”, ressaltou Giuliana Ciola Black.

Em 26 de agosto de 2019, Giuliana foi pioneira em Rio das Pedras, ao lado do marido Willy Black, ao parir o filho Rafael por meio de um Parto Natural Humanizado Domiciliar. O procedimento foi acompanhado por Gabriel (primeiro filho), Graziella e Neusa, irmã e mãe de Giuliana, que tornaram o ambiente ainda mais tranquilo, cheio de amor e aconchegante para chegada do bebê.

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Atenção, nesse caso, para o “Domiciliar”. O Parto Natural Humanizado pode ser realizado em um hospital. A diferença para o que se chama de Parto Normal é que no Natural não há intervenção de medicamentos, como remédio para estimular a contração ou emprego de técnicas para acelerar o nascimento da criança. Além de optar pelo método natural, o casal Giuliana e Willy decidiu realizá-lo em casa.

O lugar mais aconchegante é a nossa casa, que é do nosso jeito, que tem os cheiros que a gente gosta, a quantidade de luz, a presença de acompanhantes, coisas que nos fazem sentir bem.  A principal razão que nos levou a optar pelo parto natural foi justamente essa possibilidade de humanização”, relatou Giuliana, que completou na sequência.

Porque deixa a mulher mais à vontade. Permite também maior liberdade de movimentos a ela. Muita gente acredita que só existe uma posição para parir. Mas existem várias outras posições que inclusive facilitam o parto e evitam lesões, tanto na mãe quanto no bebê”.

O pequeno Rafael não é o primeiro filho da professora de dança e acupunturista, que também é mãe de Gabriel, de 6 anos.  Giuliana explica que a experiência traumatizante no parto do primeiro filho foi determinante para a opção feita durante a segunda gestação.

O meu primeiro parto foi uma experiência muito negativa. Aconteceram diversas coisas que eu não gostei. Me senti desrespeitada. Lembro-me que a caminho do hospital, estava chorando e não era um choro de felicidade, apesar de ser um dos momentos mais felizes da minha vida. Era um choro de frustração. Desde então, pensei: se eu tiver outro bebê vai ser completamente diferente. Quero estar feliz quando estiver a caminho, quero estar bem, quero que as coisas fluam da maneira mais natural possível”, explicou ela. 

Da esquerda para a direita, as parteiras Nelly e Leandra (em pé) e Thayna (abaixada); sentados na cama, Giuliana com o filho Rafael no colo, o marido Willy, Graziella Ciola (irmã de Giuliana) e a doula Regina; deitando na cama o primeiro filho Gabriel. CRÉDITO: ACERVO DA FAMÍLIA

PROCEDIMENTO REQUER ACOMPANHAMENTO

A equipe responsável por acompanhar Giuliana explicou que o Parto Domiciliar Planejado é quando a mulher escolhe sua casa para o nascimento de seu filho(a), por se sentir segura e acolhida dentro de suas necessidades. É assistido por parteiras habilitadas (enfermeiras obstetras, obstetrizes e, em alguns locais, médicos).

Nenhum tipo de intervenção desnecessária ocorre, respeitando a fisiologia do corpo e os desejos da família, desde que a gestação seja de risco habitual e o trabalho de parto siga sem intercorrências”, explicaram em texto encaminhado para Nossa  Rio das Pedras.

O material contém outros esclarecimentos sobre o Parto Natural Humanizado Domiciliar. “As pesquisas mostram que em gestação de risco habitual, os riscos de se parir em casa e no hospital são os mesmos. Porém, nos hospitais, a chance de a mulher não ser tratada com individualidade e humanização aumentam. Durante o trabalho de parto é possível perceber se há algum sinal que mostre uma possível intercorrência. Nesse caso, as parteiras tomam a decisão de transferir para o hospital de referência. Caso ocorra uma emergência, as parteiras possuem todo o material e técnica para atuar nessas situações”.

PAI RELATA EXPERIÊNCIA

Quando ele [Rafael] nasceu, eu estava junto dentro da banheira, abraçado a ela [esposa]”. O relato do momento final do parto, descrito pelo marido Willy como “uma experiência linda, maravilhosa!” confere ar de recompensa a toda atenção e carinho dispensados à esposa Giuliana durante todo o longo trabalho de parto. Foram 16 horas de muita apreensão nas quais o marido Willy esteve presente em todos os segundos.

Giuliana começou a sentir as contrações às 11h do domingo, 25 de agosto, e deu à luz o menino Rafael às 20h16, da segunda-feira, dia 26. A bolsa se rompeu às 4h da manhã da segunda e foram 16 horas de “bolsa rota”.

A presença do Willy foi super importante, foi um suporte durante as mais de 20 horas do trabalho de parto. Ele esteve comigo durante todo o tempo”, disse ela.

O pai relata momentos tensos ocasionados por presenciar todo processo vivido pela esposa. Ressalta a importância da equipe, formada por três parteiras e uma doula, para passar tranquilidade e segurança em todo momento (naquelas horas).

Quando a gente tem acompanhamento, a gente percebe que não é assim: rompeu a bolsa e o bebê tem que nascer, crença que muitas pessoas têm. As meninas [parteiras] nos deixaram muito tranquilos e cientes de que se não houvesse progresso no parto, a gente precisaria ir para o hospital. Havia todo um Plano B montado”, disse Willy.

 

CASAL RECOMENDA A EXPERIÊNCIA

Os momentos de dor de Giuliana e os de apreensão vividos por Willy são irrelevantes para a avaliação de ambos. Eles estão tão convictos de terem feito a escolha correta que a recomendam para outros pais.

“Queremos encorajar outras famílias. Desde o início da humanidade existe o parto natural. A cultura do parto hospitalar é recente. Atualmente, temos a oportunidade de ter o Parto Domiciliar Planejado , com  toda a segurança de uma equipe junto. Uma equipe bem formada, totalmente capacitada e que faz o parto domiciliar ser ainda mais seguro.  Realmente essa é a nossa mensagem: primeiro, que as mulheres possam viver um parto respeitoso. Segundo, não tendo riscos, que optem pelo parto natural. Terceiro, podendo ter um parto humanizado, natural, melhor ainda se for em casa”, recomendou Giuliana.

A avaliação de Willy vai na mesma direção e ele ressalta a qualidade de vida da esposa no pós-parto. “Vi ela sentir muita dor durante aquele intervalo de 16 horas. Mas no outro dia, ela estava totalmente recuperada. Comparamos uma foto de três dias depois do nascimento do Gabriel (primeiro filho) e de três dias depois do nascimento do Rafael. Ela era outra mulher. A recuperação foi muito mais rápida. Depois do primeiro parto, ela ficou alguns dias no hospital, por conta do corte da cesárea, que causava dor, não permitia que ela esticasse o corpo. Dessa vez, no dia seguinte ela não sentiu incômodo algum”.

 

PLANEJAMENTO FOI FUNDAMENTAL

A opção do casal formado por Giuliana e Willy pelo Parto Natural Humanizado Domiciliar se deu antes mesmo da gravidez. Foi uma decisão tomada ao mesmo tempo em que decidiram ter filho. O marido ouviu o desejo da esposa, respeitou e apoiou a escolha. A partir de então, começaram a planejar.

“Entendo que o papel do homem, do pai, nessa hora é o de apoiar a mulher. Porque o filho é dos dois, só que o corpo é da mulher. A gestação é da mulher. É dentro do corpo dela que o bebê fica durante os nove meses. Os riscos do parto são da mulher. Então, é a vida dela que está ali, é o corpo dela.”, avaliou Willy.

Tão logo veio a confirmação de que a Giuliana estava grávida, começaram o planejamento. “É lógico que não iria, de jeito nenhum, fazer alguma coisa que colocasse em risco a vida da minha mulher e a do meu filho. A gente foi estudar, foi conversar com pessoas que já tiveram a experiência, a gente participou de rodas de parto, a gente pesquisou a equipe de parteiras que iria contratar. Conversamos bastante com elas antes”.

 

 

PRESENÇA DA DOULA GARANTIU SUPORTE

As conversas com a equipe se iniciam durante a gestação, para que seja bem estabelecido o vínculo e a uma relação de confiança. Com encontros periódicos e diálogos, é possível trazer esclarecimentos, tirar dúvidas e receber informações sobre a fisiologia do parto, a fim de que o casal compreenda as fases e sinais de trabalho de parto e se sintam seguros e confiantes com tudo que irão vivenciar.

Tivemos também o acompanhamento de uma doula, palavra que vem do grego “mulher que serve” e que hoje refere-se a profissional treinada em cursos de formação. A função da doula é dar suporte emocional, físico e informacional a mulher antes, durante e depois do parto”, contou Giulina.

A atuação da doula durante o parto é reconhecida e estimulada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudos mostram que a presença delas ajuda a diminuir em 50% os índices de cesáreas, 25% a duração do trabalho de parto, 60% os pedidos de analgesia peridural, 30% o uso de analgesia peridural, 40% o uso de ocitocina e 40% o uso de fórceps.

Além disso, o apoio da doula recebido durante o trabalho de parto e pós-parto aumenta as sensações de bem-estar da mãe, diminuindo os riscos de  depressão pós-parto. Além de todo o suporte físico e emocional, elas informam e orientam as mães a respeito dos procedimentos considerados desnecessários de acordo com as atuais evidências científicas e orientações da OMS.

“Durante o parto, a Regina, minha doula, me manteve calma e confiante em todo processo. Ela ensinou minha irmã e o Willy a me fazer massagens para alívio da dor, me tratou com aromaterapia, além de trazer cantos e músicas que me traziam paz no momento. A presença da doula é indicada mesmo em partos hospitalares e é complementar ao trabalho das parteiras e também dos médicos”, completou a mãe.

Contatos no Instagram:

pais:
@giuciola e @blackbettoni

Equipe responsável pelo parto de Giuliana:

Parteiras:
– Nelly Lima Rocha
– Leandra Galvão de Melo Niceas
@tanascendo
– Thayná Caixeiro Queiroz
@thayna.parteira

Doula:
– Regina Souza
@reginasouzadoula

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